sexta-feira, 29 de outubro de 2010

IRRESPONSABILIDADE E COVARDIA

O Desafio de Redação do Diário entra em sua reta final. Restam poucas escolas para a aplicação da redação, cujo tema é Crack, Tô Fora! Quem se envolveu diretamente na produção dos textos, aplaude a iniciativa, que levou para a sala de aula epidemia tão preocupante que está ceifando vidas e mais vidas neste País, principalmente jovens.

Mas causou-me estranheza saber que vários estabelecimentos de ensino preferiram ficar de fora dessa mobilização social, alegando, em argumentação frágil, que o assunto ‘drogas’ é espinhoso demais para discutir com os alunos. O quê? Espinhoso? Melhor espinhoso agora do que trágico amanhã, senhores professores. As crianças, desde a mais tenra idade, têm o direito de se instruída e informada sobre o perigo das drogas, sobre a presença de malfeitores travestidos em papel de bonzinhos e amigos, que têm por hábito rondarem os colégios à procura de alunos ingênuos.

Deixar o tema fora da sala de aula tornar-se uma blindagem imbecil, que faz crer que o educador, que assim age, está mais preocupado em não ‘perder tempo’ com seus alunos, esclarecendo tudo sobre esse mundo marginal das drogas, que consome família, amigos, institui a violência e a criminalidade no seio social e mata seu viciado e entes queridos.

Pena que tenham agido assim e rezem para seu aluno, cerceado do conhecimento sobre essa epidemia incontrolável na sociedade brasileira, não faça mais uma vítima e esvazie mais uma cadeira dentro da classe.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

UMA POLÍTICA PARA O CRACK

Em artigo publicado dia 18 de outubro no jornal O Globo, o psiquiatra Ronaldo Laranjeira cobra mais empenho de todas as autoridades. “Nós estamos passando por uma epidemia de crack e não tivemos uma política para combater essa droga nos últimos dez anos. Primeiro, tem que haver uma política mais global, de desestímulo da produção do crack e também da cocaína na Bolívia, no Peru e na Colômbia. Tem que haver uma parceria com os vizinhos. O Brasil exporta para os produtores os insumos necessários para a produção de cocaína. É preciso criar um clima no continente de controle da produção de cocaína, e o Brasil pode fazer isso, é o grande consumidor e tem liderança na região.”

“O BNDES investe na Bolívia um dinheiro substancial. Qual é a contraparte que está sendo solicitada em relação à produção de cocaína? Nenhuma."

“No Brasil, você tem que fazer políticas de prevenção para o público-alvo, para os adolescentes. Não temos uma rede de tratamento para o crack, e isso é o mais grave. O usuário tem mais chances de parar na delegacia, preso, do que no tratamento. Se você tiver que internar alguém, onde você interna?”

“O usuário de crack é agressivo, inquieto. Temos que ter uma série de clínicas especializadas em dependência química, em várias regiões do País. Toda Capital deveria ter pelo menos uma enfermaria, com 20 a 30 leitos, exclusiva para os viciados, atendidos por profissionais especializados.”

* Ronaldo Laranjeira é médico psiquiatra, coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas na Faculdade de Medicina da Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo) e é PhD em Dependência Química na Inglaterra. É considerado um dos principais especialistas em dependência química do País e propõe, neste momento de transição governamental, que o Brasil faça políticas especiais para cada tipo de droga, principalmente o crack.

sábado, 16 de outubro de 2010

A MORTE SEMPRE POR PERTO





Estudantes participantes do 4º Desafio de Redação têm questionado o desfecho do gibi educativo que estão recebendo dos organizadores, que relata a história de um adolescente que caiu nas drogas e, antes de sucumbir com uma overdose de crack, conseguiu ter um lampejo de consciência e pediu ajuda aos pais. Para eles, o rapaz deveria ter morrido, justamente para chocar que lê o HQ e jamais pensar em colocar qualquer tipo de droga na boca. Estão certos eles com essa preocupação, mas devemos levar em consideração que todos os dependentes químicos merecem uma chance de retomar a vida, por isso, o gibi traz a moral da história: estenda a mão a quem pede ajuda, pode ser que consigamos salvar uma vida.

Isso não significa que todos que, por ventura, enveredam pelo caminho das drogas, sejam salvos. Muitos morrem de overdose, ou acabam entrando para a criminalidade, assaltando, matando e até morrendo à procura de uns trocados para adquirir mais pedras.

Já mostramos aqui o alerta que toda a mídia tem feito sobre a disseminação de nossos jovens pelo crack. Até a novela das 9h da TV Globo vem explorando o tema como forma de conscientizar a juventude e alertar, tanto sociedade quanto autoridades, a iniciar maciça corrente de combate ao tráfico e de ajuda médica a seus dependentes químicos. A ficção e a realidade agora se misturam, mas a vida nem sempre reserva final feliz para quem mergulha nesse poço de difícil volta.

domingo, 10 de outubro de 2010

CAUÃ FALA DE DANILO

O ator Cauá Reymond, que interpreta um dependente químico na novela Passione, deu entrevista para o Ilustrada, da Folha de S.Paulo, publicada neste 10 de outubro. Veja o que ele falou para a jornalista Lúcia Valentim Rodrigues sobre como compôs seu personagem Danilo.

A barba está comprida. O cabelo, ainda não. "Dei uma arrumadinha nele hoje. Já está todo desgrenhado, tomando rumo próprio", conta o ator Cauã Reymond, 30, prevendo as mudanças físicas para o personagem Danilo, da novela global "Passione". O playboy Danilo, por enquanto, está sumido da trama. Mergulhou no crack e foi expulso de casa. Seu nome só vai surgir nas conversas da família à sua procura. "É muito semelhante à vida real. As pessoas somem e reaparecem. Minha saída acabou sendo útil ao drama." Danilo, no início, era só um filhinho de papai rico. Silvio de Abreu não escondia a dependência química, mas não explicitava qual seria. "Quem consome crack se degenera rápido. Tínhamos de esperar para apresentar isso", justifica o ator.

"Fiz o Danilo bem babaca para fugir do estereótipo do bonzinho. Mas cheguei a duvidar que o público fosse sofrer. Tive medo de que, quando eu entrasse na droga, torcessem para eu morrer." Não foi o que aconteceu. Apesar de estar fora da espinha dorsal da trama, sua história ganhou compaixão. "Na rua, me contam muitos problemas familiares. Todo mundo tem. É triste. Também tenho uma pessoa na minha família, que não cabe aqui falar. Ela vai para a clínica (de reabilitação)", explica.
Após ver reportagens na internet e se aprofundar no assunto, combinou com um ex-policial para levá-lo à cracolândia, na região da Luz. "A única pessoa sã é o traficante. Nesse dia era uma mulher no comando. Vi a polícia tocando os viciados de lá. O drogado se torna um zumbi, um rato mesmo."

Por algumas semanas, frequentou o Narcóticos Anônimos e clínicas de reabilitação. "Dá muito trabalho interpretar um drogado sem ser um consumidor. Nunca experimentei [drogas]." Ele perguntava quem já tinha tomado o mesmo que o personagem, ex-velocista. "No meu desespero para encontrar verossimilhança, descobri muita gente que se droga. Foi um laboratório."

sábado, 9 de outubro de 2010

NOVELA MOSTRA A DURA REALIDADE

Vários dos participantes do 4º Desafio de Redação do Diário têm questionado o destino do personagem principal do gibi distribuído em sala de aula, que consegue se recuperar da dependência química e passa a ajudar outros viciados à retornarem à vida. Argumentam que o estudante deveria morre no final, ficando como alerta a todos que o crack mata. É verdade, toda e qualquer droga acelera o fim da vida, mas nossa proposta é evitar isso, fazendo com que sensibilizemos as autoridades governamentais e a sociedade para que estendam a mão a quem precisa de ajuda.

Muitos dos que caíram nesse mundo de trevas conseguiram receber apoio e hoje estão de volta ao convívio social. Gente famosa serve de exemplo disso. Dinei, Casagrande, Fábio Assunção, Vera Fischer e tantos outros, personalidades ou anônimos, estão aí desenvolvendo seu trabalho e se doando um pouco para aqueles que necessitam de ajuda.

Na televisão, Cauá Reymond, talvez, interprete seu mais significativo personagem e tem chocado pais, irmãos, amigos e todo seu País com seu Danilo, ex-atleta que caiu no crack e hoje, na ficção, está no escuro, mergulhado na alucinação e nas mãos de traficantes. O autor de Passione, Silvio de Abreu, sempre costuma em seus folhetins trazer um alerta social. Na atual novela, faz o mesmo e expõe as feridas de uma família que não sabe lidar com a dependência química do filho e mal sabe identificar onde o problema começou.

Estejam certos, entretanto, que Danilo vai sobreviver na novela, com ajuda de mãe, irmão, médicos, enfim, da sociedade que o vê definhar e estenderá sua mão ao rapaz. Aliás, estudantes, essa é a proposta do Desafio de Redação: levar o tema crack para a sala de aula e para dentro de casa, para que todos olhem com mais afeto e atenção para os nossos jovens dependentes e, juntos, todos nós possamos trazê-lo de volta à vida.